Postetomia e Beethoven

Recorrendo ao velho e bom Aurélio (minha natureza reacionária ainda não assimilou a existência do Houaiss), onde encontramos a definição singela e sintética de Postetomia:

Postetomia. [De post(e)- + -tom(o)- + -iu] S. f. Cir. Circuncisão (1).

Meu pequeno drama pessoal desde quinta-feira tem sido lidar com os "efeitos colaterais" de tal procedimento cirúrgico. Comprovando minha teoria mirabolante que todo Urologista precisa de um senso de humor fantástico para poder aceitar seu fardo de observar, examinar e manusear o órgão reprodutor masculino diariamente, recebi a recomendação profissional de evitar exercício físico durante 30 dias, "tanto levantamento de peso quanto levantamento de pinto".

Jóia...

No começo, tudo fluiu bem; o fato de ter pontos circunferenciando a glande e subindo pelo caminho antes ocupado pelo freio foi mais que o suficiente para conseguir desapegar de qualquer idéia de ereção, me mantendo seguramente impotente durante dois dias. Dois estranhos, confusos e flácidos dias.

Mas, desde todo o sempre, tenho mantido como filosofia pessoal de vida o uso desenfreado do hábito de me tocar de forma impura, substituto completo para qualquer espécie de religião organizada.

(Como pude imaginar que uma abstinência de 30 dias fosse fluir bem, não me pergunte...)

Hoje, acordei de forma mais volumosa que recomendável. Depois de uma corrida desesperada para o freezer pegar uma bolsa de gel a amigáveis e refrescantes cinco graus negativos, comecei a ficar preocupado. O frio ajudou a controlar a exuberância matinal, mas a bolsa começou a esquentar antes de matar completamente meu inchaço matinal doloroso e desesperador, fazendo com que eu percebesse o óbvio: não posso contar com temperaturas polares para controlar meus impulsos; tenho que achar uma forma mais ágil e duradoura!

Pensei, imediatamente, em ir pra varanda fumar um cigarro e ouvir música, distraindo minha mente e ajudanto a manter meu tecido erétil não ereto. Por pouco não morro! Não sei como passou pela minha cabeça que Beethoven fosse uma boa escolha, ainda mais a Nona! Talvez a Pathètique, mesmo a Appasionatta, mas não a Nona! Desliguei desesperadamente a música, e comecei, frenéticamente, a procurar algo mais inócuo e menos visceral, enquanto os últimos acordes ecoavam em minha mente, fazendo meus pontos quase soltarem. Trêmulo, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto, amaldiçoei todas as músicas que escuto, malditos Beethovens, Tchaikovskys, Portisheads e Massive Attacks! Pro inferno com a linha de baixo forte e vocais gritados dos Pixies, com a voz da Fiona Apple, com a sonoridade única de cada disco do U2.

Imaginei que não poderia mais ouvir nada que eu gosto por 30 dias, perspectiva que me aterroriza mil vezes mais que um ascetismo sexual forçado, ainda mais comparando minha frequência de cada atividade! Onde achar uma música tão insípida e vazia de qualquer emoção, tão ridiculamente assexuada que me permitiria ouvir todas as outras músicas que gosto, precisando apenas lembrar de escutar um pouco dela para me acalmar entre o terceiro e quarto movimento da Nona e entre Glory Box e Sour Times no Roseland NYC Live do Portishead? Nunca acharia algo tão estúpido e ridículo! Estava resignado a um mês de silêncio musical.

Ainda bem que lembrei do Stereolab.

Nenhum comentário: