O Não-País

Em 1963, franceses que pescavam lagosta ilegalmente na costa brasileira foram presos e gentilmente devolvidos à França. Irritado, o então presidente Charles de Gaulle teria dito “O Brasil não é um país sério”. O que não faria sentido; um país que fiscaliza sua costa e repreende práticas ilegais pode ser considerado bastante sério. Só começa a fazer sentido quando descobrimos que a frase foi suavizada pelo então embaixador brasileiro na França, Carlos Alves de Souza Filho.

A frase original proferida por de Gaulle seria “O Brasil não é um país”. Ou seja, fodam-se os limites de águas territoriais brasileiras, foda-se a polícia, foda-se a diplomacia, nem é um país.

Faz sentido.

Desde então, as únicas fontes fidedignas de informações e opiniões sobre o Brasil (tirando Diogo Mainardi, o último ser humano sensato de nosso não-país) têm sido publicações estrangeiras.

O New York Times publicou um artigo em Dezembro de 2007 que resumia toda a situação do Renangate em alguns poucos parágrafos. Era objetiva, direta e, mais importante, sem rabo preso. Por motivos óbvios; não consigo imaginar por qual motivo o New York Times colocaria panos quentes em qualquer coisa relacionada ao Brasil.

Um relatório do Departamento de Estado norte-americano desceu o cacete no Brasil por causa de coisas típicas desse não-país, como corrupção, simbolizada pela mais recente afronta à inteligência humana, que é o não linchamento de nosso estimado criminoso, ex-Presidente do Senado), impunidade (mais uma vez, lá estava Renan) e violência policial (mais precisamente, o caso da menina de 15 anos de idade encarcerada com 20 homens em um não-estado do nosso não-país, que, claro, foi abundantemente estuprada).

Qual conclusão podemos tirar disso tudo, tirando a óbvia, de que o Brasil não é um país viável? A conclusão é que a imprensa brasileira tem o rabo preso de forma quase criminosa. Seja por pressões de nossos dirigentes eleitos, seja por auto-censura, os jornais do Brasil lidam de forma excessivamente comedida com a realidade política do país.

Tirando o Estado de Minas, mais proativo em suas atitudes, que ignora agressivamente qualquer fato negativo do Governo do Estado. Se Aécio Neves peidasse durante uma comitiva, a manchete no dia seguinte seria “O Doce Aroma da Boa Liderança”. O que mais me incomoda é que considero Aécio Neves um governante acima da média, e votaria nele para Presidente da República sem pestanejar, mas é um absurdo o jornal de maior circulação do estado ficar ajoelhado com o pau dele na boca. Na verdade é um absurdo o jornal de maior circulação do estado ser a merda que é. Minhas condolências a todos (os quatro ou cinco) jornalistas de verdade que trabalham para o grande jornal dos mineiros.

Minhas condolências a todos os seres humanos semi-racionais que povoam nosso não-país.

18 comentários:

Anônimo disse...

Matas, parabéns seu estilo tá mudando e tá ficando muito bom. Vc é muito bom com críticas, pois vc pensa de forma reflexiva e escreve de forma clara e contundente.

Unknown disse...

cheers to that!

Guilin disse...

Me desculpe, mas diogo mainardi não vale a comida que come. O rabo dela é dos mais presos de todos.

http://luis.nassif.googlepages.com/home

é meio chata essa leitura, mas vale a pena.

PS: gostei da chamada

Anônimo disse...

Grande Matias, há mais ou menos oito meses que nao leio os seus textos, ou seja, desde que voce voltou a escrever. Só consegui ler o primeiro e depois abandonei. Sua postura "radical a favor" de pequeno-burgues tava chata pra caralho. Pior mesmo só ouvir a chatice do Manhatan Connection. Mas esse texto está bem melhor. Muito legal. A chamada foi digna de um genio da mídia, nao fosse voce o escritor. Valeu a leitura. Para mim ficou apenas uma pergunta que nao quer calar: o lance com Diogo Mainardi foi sacanagem, certo? Porque senao retiro tudo o que disse e seu texto passa a ser uma merda. Esse cara nao fede nem cheira, é uma mistura de Paulo Francis, Pedro Bial e Jo Soares...po, voce pode melhor!!!
Abraco e devo aparecer em Minas no feriado de Abril, vamos marcar uma parada.
Richard

Anônimo disse...

1 - Tá de TPM?

2 - O primeiro comentário anônimo foi você mesmo quem escreveu?

3 - Quem é Diogo Mainardi?

4 - Para que serve um jornalista?

Anônimo.

X-MAN disse...

O texto é otimo e realista, só achei a piada do Diogo Mainardi meio sem graça

Matatas disse...

Eu gosto dos textos do Mainardi. Não é piada.

Anônimo disse...

Galera repetindo um antigo comentário: "Relaxem! É só um blog."

Guilin disse...

Tem alguém tenso ai?

Anônimo disse...

Acho que a questão pode ser um pouco mais profunda; não acha? Em primeiro lugar, os gringos conseguem ser ultraobjetivos com algo além-fronteira, mas eles conseguem uma autoreflexão jornalística com eles próprios?

Será?

Em segundo lugar, existem muitas fontes de informação no Brasil, feita por brasileiros, bem melhor do que as que você citou. Uma delas, que reflete sobre o próprio fazer jornalístico, por jornalistas, é o observatório da imprensa. Diogo Mainard é só mais um numa longa lista de oportunistas semi-literatos que critica o Brasil num esquema autopoiético de reflexões e experiencias pessoais. E, lamento, a vida dele é uma merda.

Quanto ao Aécio, ser um bom administrador é apenas o primeiro passo para ser um governante. Ao menos ele não nutre sua vida política no esforço coronelista que, ainda, domina a vida politica nacional.

Quanto ao fato de o Brasil ser um pais inviável, temo discordar. Não só pode, como já é. Não somos perfeitos, isso eu concordo, mas acredito que estamos melhor do que ontem.

Conclusão: o que precisamos evitar é uma espécia de consciência crítica (ou semi-consciência semi-critica) que, em prol da resposta mais fácil (que você julga inteligente), procura ignorar todos os vícios históricos ao qual nos expusemos e todos os elixires ideológicos milagrosos que compramos por ai.

Fausto Sette.

PS: O estilo da redação melhorou, mas ainda tem coisa errada. Rs...

Anônimo disse...

esse Fausto é Fáustico mesmo.
piadinha ordinária.

Zo...
Tá bem divertido o ritmo agora.
E alguma coisa acabou me lembrando Henry Miller, junto ao texto dos tomates.

lembrei de uma parte do SEXUS que ele fala "como uma injeção de veneo de ptomaína embrulhada num tomate podre."

é tipo o nosso Não-París!

tststs

andre wakko

Anônimo disse...

Na verdade o Diogo Mainardi é minha Barbie --- tudo o que eu queria ser₢. Meu sonho é virar media pundit e ser pago para dar palpites.

Matatas disse...

Sonho de todos nós, Saintcahier. Todos nós.

Anônimo disse...

Matias, beleza? Tou sempre acompanhando seu blog. Esse texto demorou a sair, em relação ao anterior, hein? Achei legais as críticas, com exceção ao elogio ao Diogo Mainardi, que acho um idiota razoavelmente bem informado. Outra coisa: não é "condolescência", é "condolência".

Anônimo disse...

Um anjo perguntou pra Deus quando ele criou o Brasil: Senhor um lugar tão bonito, com belas paisagens, clima tropical, onde tudo que se planta nasce, sem terremotos, sem maremotos ou tufões é o Paraíso? Deus respondeu: Paraíso???? Espera pra você ver o povinho que eu vou colocar ai.
Faço uma pergunta _ Oque podemos fazer, cada um de nós, pra deixarmos de ser um povinho fodido e escroto num não pais??????
Matias, casa e vai embora... ah se eu pudesse!!!!

Fritélix disse...

Bão Matias!
Ah velho, para com esta idéia de desgraça é exclusividade Brasileira. Isso tá mais batido que vitamina de rodoviária. Quando o NY Times publicou esta matéria sobre o Brasil o Luiz Carlos Azenha: viomundo.com.br, um dos melhores sites de jornalismo limpo, mostrou o que havia por trás da matéria. Pq o jornal mais importante do mundo dedica páginas para um não-país!? Só pra mostrar nossas mazelas? Só para ser a polícia do mundo? Ou será que mostrando a nossa crise moral, estavam querendo desestimular os investimentos internacionais aqui!? Pois é meu caro, esta matéria saiu quando o dolar caiu dos 1,80, o Lula tinha anunciado a (re)descoberta de uma enorme reserva de petróleo e o fluxo de capital pra cá tinha alcançado o maior montante da história. É phodda ver Brasileiros aceitando o que os impérios decadentes enfiam goela a baixo. Um bom jornalista vê os dois lados da moeda. Ah e sobre a nossa crise política, deixa que a gente resolve, pode ser, como filhos de Deus, que escrevemos certo por linhas tornas, pelo menos o já alfabetizados. Abç

SaintCahier disse...

* * * Conspiracy theory detected * * *

Anônimo disse...

Matias,
vc publica esses textos mais "politizados" na terça porque acabou de ler a Veja ?