Alcaparra

Depois de um texto fervorosamente contra livros, textos, palestras e toda a parafernália de auto-ajuda, escrevo um texto de auto-ajuda. Mas não auto-ajuda sentimentos, podemos te ajudar, você precisa entrar em contato com seu eu interior para explorar ao máximo seu potencial e toda esse lixo hippie new-age, estou falando de um texto literalmente de AUTO-ajuda... Quero ME ajudar, por isso estou escrevendo agora. EU, EU, EU e EU. Vocês que se fodam.

Sempre odiei Alcaparras. Sempre achei uma merda toda a idéia da Alcaparra. Não aceito que possa haver algo nascido assim, criado para ser assim. Parece mais uma ervilha que não deu certo... apanhava das ervilhinhas maiores no colégio, não conseguiu entrar numa receita bacana, como Farfalle com Presunto de Parma e Ervilhas, nem sua última esperança, virar ervilha congelada, deu certo; não arrumou um ervilho, ou se arrumou ele a largou, saiu do armário e foi morar com um kiwi sadomasoquista com fantasias sexuais perturbadoras envolvendo multiprocessadores e sorvete de creme... enfim, sei lá, deu tudo errado.

Assim, a pobre ervilha foi ficando velha, perdendo o gosto pela vida... com isso vieram as rugas, a flacidez e a amargura de uma vida fracassada. De tão velha e depressiva que a ervilha ficou, desistiu até do nome. Ervilha... um nome tão jovem, cheio de energia e repleto de esperança, despontando para um futuro ervilhescamente brilhante! Nada disso, uma ervilha sem fé na possibilidade de uma vida cheia de emoções precisa de um nome condizente com uma existência monótona e infeliz... um nome como, por exemplo, alcaparra!

Porque até o nome, Alcaparra... não sei, tem algo de escroto no nome... REALMENTE escroto; o parra parece meio porra, aí vira uma confusão só... Alcaparra, Alcaporra, Álcool Porra... uau, um novo drinque! Tequila, limão e porra. (na verdade, quem já tomou umas 5 tequilas direto sabe que vai ter porra em algum lugar... de preferência em alguém, mas nem toda noite acaba tão bem assim, né? Que atire a primeira pedra quem consegue encher a cara de tequila e não ficar tarado ao ponto de quase enlouquecer...)

Mas enfim, voltando à porra da Alcaparra...

Desde minha chegada à Alemanha, estou tentando superar meus traumas de comida, tipo brócolis, peixe, etc. O peixe foi tranquilo, mais porque era um trabalho em andamento; já gostava de sushi (como qualquer idiota que acha super cool comer sushi), e tinha começado o tratamento de peixes grelhados no Brasil; agora nenhum peixe me assusta, pelo menos não os mortos, porque quem já viu um badejo enorme na frente sabe que é FODA...

No entanto, esbarrei na Alcaparra. Só o conceito de comer alcaparras me perturbava ao ponto de pensar em escrever um texto como esse, deixando clara minha posição de anti-alcaparra.

Este texto terminaria aqui, provavelmente com um palavrão, porque descobri que terminar textos com palvrões dá um super efeito legal, de gente Barulhenta. Ainda mais quando é totalmente gratuito. No entanto, encontrei um problema, que invalida minha teoria.

Alcaparra é bom. Pra caralho.

Ainda mais com salada, crua, mas crua no sentido de direto do vidro... não tenho a menor idéia do que vem a ser o ciclo de vida de uma Alcaparra antes do estágio Vidro Na Prateleira, e até onde eu saiba, no sul da Itália existem campos enorme, brilhando e cintilando com reflexos do sol em milhões de vidros de alcaparras em conserva.

No entanto, apesar de meu recém-descoberto gosto por alcaparras, ainda mantenho meu posicionamento filosófico acerca dessas merdinhas, essas ervilhinhas frustradas.

Ah, e a parte de auto-ajuda é que descobri que posso tudo que quiser, porque se consigo gostar de alcaparras, nenhuma überfrau é desafio para mim.

PORRA!

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